quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Mais Uma de Arthur da Távola....

AMOR MADURO

O amor maduro não é menor em intensidade. Ele é apenas silencioso.
Não é menor em extensão. É mais definido, colorido e poetizado.
Não carece de demonstrações: presenteia com a verdade do sentimento.
Não precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.

O amor maduro tem e quer problemas, sim, como tudo.
Mas vive dos problemas da felicidade.
Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem e o prazer.
Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.
Na felicidade está o encontro de peles, o ficar com o gosto da boca e do cheiro, está a compreensão antecipada, a adivinhação, o presente de valor interior, a emoção vivida em conjunto, os discursos silenciosos da percepção, o prazer de conviver, o equilíbrio de carne e de espírito.

O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte salva de cada pessoa. Ele vive do que não morreu mesmo tendo ficado para depois.
Vive do que fermentou criando dimensões novas para sentimentos antigos, jardins abandonados, cheios de sementes.
Ele não pede... tem. Não reivindica... consegue.
Não percebe... recebe. Não exige... dá.
Não pergunta... adivinha.
Existe, para fazer feliz.

O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão.
Basta-se com o todo do pouco, não precisa e nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida e sua incompletude, por isso é pleno em cada ninharia por ele transformada em paraíso.
É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança.
É o sol de outono: nítido mas doce... luminoso, sem ofuscar... suave mas definido... discreto mas certo.
Um Sol, que aquece até queimar...
...E todo mundo está a espera deste amor fantasia, com gosto de Disney, maçã verde e cereja (ah... eu adoro cereja); ou com gosto de lágrimas ...
... que serão secadas com os lábios ou com os olhos aflanelados de quem tem paixão.
... E todo mundo quer este amor-estrela, que vai povoar sonhos, encher nossas cabeças de pó de pirlimpimpim,mas que também vai descer à terra para descascar cebolas, lavar pratos, fazer compras no supermercado e dar xarope na hora da tosse...

Todo mundo quer e pouca gente tem.
Todo mundo procura, pouca gente acha...
e às vezes, quando acha, joga no lixo da primeira esquina.
Só porque correu do trabalho que pensou que ia dar comprar terra, adubar e regar para fazer crescer.
Só porque ficou com preguiça de ter que ouvir blá-blá-blás ou discutir prá saber o caminho a tomar para dar voltas, sem dar tantas voltas...
ou para saber que música escolher para ser dos dois, para olhar nos olhos da amada (o) e ver os seus refletidos, pulando como os peixes prá fora d'água..
Só porque receou ter um elevador na barriga, bateria de escola de samba no coração.
Porque não quis comprar champanhe no momento em que o corpo do outro desejava ser taça e não quis subir na montanha russa e sacolejar no espaço...
Porque não se aventurou a experimentar um prazer maior do que os que já teve, com medo de perdê-lo e não se acostumar com pouco...
Porque não quis tentar ser feliz, só porque dizem que a felicidade dura pouco...

E a gente se acostuma com o que aparece no lugar do amor-maior, mesmo porque este aí não dá em árvore.
Engolimos sapos que nunca vão virar gente, muito menos príncipes e princesas, só porque dá trabalho de revirar o brejo ou procurar o pé da Cinderela, para enfiar o sapato velho que temos guardado há tanto tempo ou para entender que o mundo é uma grande lagoa cheia de sapos coaxando fora do tom e que há que se ter ouvido para escutar uma nota certa.

Para encontrar o amor verdadeiro , temos que perder o pavor de parecer ridículos, de falar sozinhos, de rir por nada, de escrever versos doidos e textos sem pé nem cabeça, de fazer papel de criança, de louco, de bem-te-vi, de sonhador..
de correr riscos, sair da rotina, dar cambalhotas e apanhar beijos no pé...
Temos que ser solidários, infantis, amadurecidos, saber andar na corda bamba, tocar bumbo, ainda que fora de ritmo , dar flores, falar besteiras, entender coisas sérias e, sobretudo, não ter medo de vivê-lo....
mesmo que um dia esse amor nos faça sofrer !

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