quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A Senhora das Especiarias

Esse livro foi indicação de um amigo querido e me apaixonei por sua estória envolvente formada por cheiros, sabores, magias e amores.


Segue aí uma excelente dica de leitura de uma autora até então para mim desconhecida:


A Senhora das Especiarias - Chitra Divakaruni


"Açafrão, pimenta do reino, fava de baunilha, curcuma. Tilo, a narradora de A SENHORA DAS ESPECIARIAS, de Chitra Divakaruni, conhece as propriedades mágicas de cada erva. Para cada cliente que entra em sua loja, em Oakland, ela tem uma receita singular. Tilo consegue ver o que mora no coração das pessoas - seus desejos e esperanças.


Tilo nasceu na Índia e, após um longo ritual, passa a dominar os segredos do bom uso das especiarias. Ela poderá alcançar a imortalidade se, entre outras condições, jamais sucumbir a desejos carnais. Uma mestra precisa esquecer as próprias paixões. Mesmo tendo assumido a forma humana de uma velha, Tilo se surpreende quando o belo Raven entra um dia em seu bazar. Apaixonada, descobre subitamente sua fragilidade.


Com seu texto poético, Chitra Divakaruni impregna de doce magia o cotidiano de uma cidade moderna. Com rara sensibilidade, traça um perfil da comunidade de imigrantes indianos, divididos entre seus valores tradicionais e o sonho americano. Divakaruni vem se destacando rapidamente no cenário da literatura mundial. A SENHORA DAS ESPECIARIAS, vendido para dez países, obteve grande sucesso nos Estados Unidos."


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Mais Uma de Arthur da Távola....

AMOR MADURO

O amor maduro não é menor em intensidade. Ele é apenas silencioso.
Não é menor em extensão. É mais definido, colorido e poetizado.
Não carece de demonstrações: presenteia com a verdade do sentimento.
Não precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.

O amor maduro tem e quer problemas, sim, como tudo.
Mas vive dos problemas da felicidade.
Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem e o prazer.
Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.
Na felicidade está o encontro de peles, o ficar com o gosto da boca e do cheiro, está a compreensão antecipada, a adivinhação, o presente de valor interior, a emoção vivida em conjunto, os discursos silenciosos da percepção, o prazer de conviver, o equilíbrio de carne e de espírito.

O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte salva de cada pessoa. Ele vive do que não morreu mesmo tendo ficado para depois.
Vive do que fermentou criando dimensões novas para sentimentos antigos, jardins abandonados, cheios de sementes.
Ele não pede... tem. Não reivindica... consegue.
Não percebe... recebe. Não exige... dá.
Não pergunta... adivinha.
Existe, para fazer feliz.

O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão.
Basta-se com o todo do pouco, não precisa e nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida e sua incompletude, por isso é pleno em cada ninharia por ele transformada em paraíso.
É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança.
É o sol de outono: nítido mas doce... luminoso, sem ofuscar... suave mas definido... discreto mas certo.
Um Sol, que aquece até queimar...
...E todo mundo está a espera deste amor fantasia, com gosto de Disney, maçã verde e cereja (ah... eu adoro cereja); ou com gosto de lágrimas ...
... que serão secadas com os lábios ou com os olhos aflanelados de quem tem paixão.
... E todo mundo quer este amor-estrela, que vai povoar sonhos, encher nossas cabeças de pó de pirlimpimpim,mas que também vai descer à terra para descascar cebolas, lavar pratos, fazer compras no supermercado e dar xarope na hora da tosse...

Todo mundo quer e pouca gente tem.
Todo mundo procura, pouca gente acha...
e às vezes, quando acha, joga no lixo da primeira esquina.
Só porque correu do trabalho que pensou que ia dar comprar terra, adubar e regar para fazer crescer.
Só porque ficou com preguiça de ter que ouvir blá-blá-blás ou discutir prá saber o caminho a tomar para dar voltas, sem dar tantas voltas...
ou para saber que música escolher para ser dos dois, para olhar nos olhos da amada (o) e ver os seus refletidos, pulando como os peixes prá fora d'água..
Só porque receou ter um elevador na barriga, bateria de escola de samba no coração.
Porque não quis comprar champanhe no momento em que o corpo do outro desejava ser taça e não quis subir na montanha russa e sacolejar no espaço...
Porque não se aventurou a experimentar um prazer maior do que os que já teve, com medo de perdê-lo e não se acostumar com pouco...
Porque não quis tentar ser feliz, só porque dizem que a felicidade dura pouco...

E a gente se acostuma com o que aparece no lugar do amor-maior, mesmo porque este aí não dá em árvore.
Engolimos sapos que nunca vão virar gente, muito menos príncipes e princesas, só porque dá trabalho de revirar o brejo ou procurar o pé da Cinderela, para enfiar o sapato velho que temos guardado há tanto tempo ou para entender que o mundo é uma grande lagoa cheia de sapos coaxando fora do tom e que há que se ter ouvido para escutar uma nota certa.

Para encontrar o amor verdadeiro , temos que perder o pavor de parecer ridículos, de falar sozinhos, de rir por nada, de escrever versos doidos e textos sem pé nem cabeça, de fazer papel de criança, de louco, de bem-te-vi, de sonhador..
de correr riscos, sair da rotina, dar cambalhotas e apanhar beijos no pé...
Temos que ser solidários, infantis, amadurecidos, saber andar na corda bamba, tocar bumbo, ainda que fora de ritmo , dar flores, falar besteiras, entender coisas sérias e, sobretudo, não ter medo de vivê-lo....
mesmo que um dia esse amor nos faça sofrer !

quinta-feira, 3 de julho de 2008



Willian Skakespeare


"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes, não são promessas. E comeca a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quao boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que leva-se anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem da vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa - por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a ultima vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.

Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.

Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.

Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.

Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.

E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!"

Uma Pequena Homenagem à Artur da Távola



QUEM É AMIGO ?


Amigo é quem, conhecido ou não, vivo ou morto, nos faz pensar, agir ou nos comportarmos no melhor de nós mesmos. É quem potencializa esse material. Não digo que laboremos sempre no pior de nós mesmos (algumas pessoas, sim), mas nem sempre podemos ser integrais para operar no melhor de nós. Há que contar com algum elemento propiciador, uma afinidade, empatia, amor, um pouco de tudo isso. E, sempre que agimos no melhor de nós mesmos, melhoramos, é a mais terapêutica das atitudes, a mais catártica e a mais recompensadora. Esta é a verdadeira amizade, a que transcende os encontros, os conhecimentos, o passado em comum, aventuras da juventude vividas junto. Um escritor ou compositor morto há mais de cem anos pode ser o seu maior amigo.


Esse conceito de amizade transcende aquele outro mais comum: o de que amigo é alguém com quem temos afinidade, alguma forma de amor não-sexual, alguém com quem podemos contar no infortúnio, na tristeza, pobreza, doença ou desconsolo. Claro que isso é também amizade, mas o sentido profundo desse sentimento desafiador chamado amizade é proveniente de pessoas, conhecidas ou não, distantes ou próximas, que nos levam ao melhor de nós. E o que é o melhor de nós? É algo que todos temos, em estado latente ou patente, desenvolvido ou atrofiado. Mas temos. E certas pessoas conseguem o milagre de potencializar esse melhor. Sentimos-nos, então, fundamente gratos e, de certa maneira, orgulhosos (no bom sentido da palavra) por podermos exercitar o que temos de melhor. Este melhor de nós contém sentimentos, palavras, talentos guardados, bondades exercidas, ou não.


Amar, ao contrário do que se pensa, não perturba a visão que se tem do outro. Ao contrário, aguça-a, aprofunda-a, aprimora-a. Faz-nos ver melhor. Também assim é a amizade, forma especial de amor, capaz de ampliar a lucidez e os modos generosos e compreensivos de ver, sentir, perceber o outro e, sobretudo -se possível- potencializar os seus melhores ângulos e sentimentos.


Somos todos seres carentes de sermos vistos e considerados pelo melhor de nós. A trivialidade, a superficialidade, as disputas inconscientes, a inveja, a onipotência, a doença da auto-referência faz a maioria das pessoas transformar-se em vítimas do próprio olhar restritivo. E o olhar restritivo é sempre fruto da projeção que fazem (fazemos) nos demais, de problemas e partes que são nossas e não queremos ver. E quantas vezes isso acontece entre pessoas que se dizem amigas. Essas pessoas (que se dizem amigas) ignoram certas descobertas do velho Dr. Freud e, através de chistes, passam o tempo a gozar o “amigo”, alardeando intimidade (onde às vezes há inveja) como prova de amizade. O que não é. Mesmo quando é... Caso se queira medir o tamanho de uma amizade, meça-se a capacidade de perceber, sentir e potencializar o melhor do outro, porque somente essa atitude fará dele uma pessoa cada vez melhor e, por isso, merecedora da amizade que lhe é dedicada.

domingo, 20 de abril de 2008

Fernando Pessoa




Uma biografia de Fernando Pessoa seria na verdade uma coleção de biografias. Uma dele próprio; outras tantas para seus heterônimos. Alberto Caeiro, Álvaro de Campo, Ricardo Reis, Bernardo Soares, só para falar em alguns destes heterônimos, que não são pseudônimos com alguns pensam, mas escritores com personalidades e estilos próprios, com vida e história independentes dos demais. A genialidade de Pessoa era tamanha que não cabia em um só homem; eram necessários vários homens, várias cabeças para dar vazão a tanta criatividade, ao transbordamento de idéias que o acometia. Grande conhecedor da língua portuguesa, ela própria brincou com seu sobrenome: Pessoa. Talvez Pessoas fosse mais adequado, para um poeta que era habitado por tantos outros.


Fernando Antônio Nogueira Pessoa, nasce em 13 de junho de 1888 na cidade de Lisboa, Portugal. Segundo ele próprio nos conta, no ano seguinte nasceu Alberto Caeiro, o poeta do campo e da natureza e também Álvaro de Campos, o engenheiro. Quando tinha cerca de 5 anos, seu pai morre com apenas 43 anos. Em 1894, então com 6 anos de idade, cria seu primeiro heterônimo: Chevalier de Pas. Em 1896, parte com sua família para Durban, África do Sul. Vão morar com o novo marido de sua mãe, o comandante João Miguel Rosa, cônsul interino de Portugal naquele país. Lá Fernando Pessoa vai aprender inglês e francês, línguas em que escreverá alguns poemas e grandes trabalhos de tradução. Com 14 anos de idade, em 1902, escreve o poema "Quando ela passa", presente em nossa seleção de poemas.


Em 1905, parte sozinho para Lisboa onde pretende se inscrever no Curso Superior de Letras. Embora tenha ingressado no curso, jamais o terminou. A partir de 1912 (ano em que nasce Ricardo Reis em sua cabeça), Pessoa entra numa fase bastante produtiva colaborando com a revista Águia, onde publica uma série de artigos e poemas. Sua obra e sua vida foram permeados por ligações com as chamadas ciências ocultas, o que pode ser percebido em muitos de seus poemas. Em 1930 inicia uma troca de correspondência com o "mago" inglês Aleister Crowley que neste mesmo ano vai à Lisboa visitar Fernando Pessoa. Vinte e três dias depois de sua chegada, Crowley desaparece misteriosamente. Em homenagem ao inglês, Pessoa traduz e publica o poema "Hino a Pã" escrito por Crowley.


Pessoa nunca se casou. Teve por algum tempo um namora com Ophélia, mas acabou por desistir do namoro para casar-se com a literatura. Embora tenha escrito e publicado dezenas de artigos, ensaios e poemas em seus anos de vida, por incrível que pareça, ele que é um dos maiores poetas da língua portuguesa, publicou apenas um livro em vida, o "Mensagens" em 1934. Com este livro participou de um concurso literário chamado "Antero de Quental" e ganhou o segundo premio ("segunda categoria"), cabendo o primeiro premio ao livro "Romaria" de Vasco Reis. Em janeiro de 1935 pensa em mudar-se para as cercanias de Lisboa para compor seu primeiro grande livro a ser publicado, o que não aconteceria. Em 29 de novembro deste ano, Fernando Pessoa é hospitalizado com uma cólica hepática. No dia seguinte, 30 de novembro de 1935, com apenas 47 anos de vida, falece Fernando Pessoa.




Fernando Pessoa - Cancioneiro


Autopsicografia

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda Gira,

a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Para Viver um Grande Amor

Para viver um grande amor, preciso
É muita concentração e muito siso
Muita seriedade e pouco riso
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor, mister
É ser um homem de uma só mulher
Pois ser de muitas - poxa! - é pra quem quer
Nem tem nenhum valor
Para viver um grande amor, primeiro
É preciso sagrar-se cavalheiro
E ser de sua dama por inteiro
Seja lá como for
Há de fazer do corpo uma morada
Onde clausure-se a mulher amada
E postar-se de fora com uma espada
Para viver um grande amor

Para viver um grande amor direito
Não basta apenas ser um bom sujeito
É preciso também ter muito peito
Peito de remador
É sempre necessário ter em vista
Um crédito de rosas no florista
Muito mais, muito mais que na modista
Para viver um grande amor
Conta ponto saber fazer coisinhas
Ovos mexidos, camarões, sopinhas
Molhos, filés com fritas, comidinhas
Para depois do amor
E o que há de melhor que ir pra cozinha
E preparar com amor uma galinha
Com uma rica e gostosa farofinha
Para o seu grande amor?

Para viver um grande amor, é muito
Muito importante viver sempre junto
E até ser, se possível, um só defunto
Pra não morrer de dor
É preciso um cuidado permanente
Não só com o corpo, mas também com a mente
Pois qualquer "baixo" seu a amada sente
E esfria um pouco o amor
Há de ser bem cortês sem cortesia
Doce e conciliador sem covardia
Saber ganhar dinheiro com poesia
Não ser um ganhador
Mas tudo isso não adianta nada
Se nesta selva escura e desvairada
Não se souber achar a grande amada
Para viver um grande amor!

Para Viver um Grande Amor

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Quem nunca sentiu saudades de alguém?
Esse belíssimo texto de Miguel Falabella exprime maravilhosamente esse sentimento.

SAUDADE

“Em alguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave para sentirmos tanta saudade."
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade.


Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida.

Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio. Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se ela ainda usa aquela saia. Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada, se ele tem assistido as aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua preferindo suco, se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados, se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor, se ele continua cantando tão bem, se ela continua detestando o McDonald's, se ele continua amando, se ela continua a chorar até nas comédias.

Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer. É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer. Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...

Miguel Falabella

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Hoje acordei com saudades do meu filho... E aí lembrei-me de um livro que ganhei no dia de seu nascimento - que continha um poema do escritor Khalil Gibran, Os Filhos. Procurei fazer com que as palavras contidas nesse poema guiassem a minha relação com ele.
Hoje ele está com 23 anos e acho que consegui fazer o melhor possível!


Os Filhos (Do Livro "O Profeta")

Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele falou:

Vossos filhos não são vossos filhos.

São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.

E embora vivam convosco, não vos pertencem.

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.

Gibran Khalil Gibran, poeta, pintor e filósofo libanês, nasceu na cidade de Becharré, ao norte do Líbano, não muito longe da sagrada floresta dos cedros milenares. Emigrou para Nova York em 1895 e, em companhia de sua mãe, seu irmão e suas duas irmãs e lá faleceu no dia 10 de abril de 1931.

Gibran, cuja obra é abundante e traduzida também em português, tornou-se conhecido pelo seu célebre livro “O Profeta”, escrito em inglês e traduzido em 40 idiomas. Esta obra prima é, antes de tudo, um livro de moral, muito útil em nossos tempos. Segundo Gibran, a mensagem das religiões perdeu sua força por causa do comportamento das igrejas, a ideologia política mostrou suas falhas e o materialismo ateu revelou-se carente de valores espirituais. O livro “O Profeta” reflete o pensamento do autor, suas esperanças, sua filosofia sobre o casamento, os filhos, as leis, a morte, etc, assim como outros assuntos que podem ser resumidos pelo poder curador do amor universal e da unidade do ser.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Poema-Orelha de Carlos Drummond de Andrade



Esta é a orelha do livro

por onde o poeta escuta

se dele falam mal

ou se o amam.

Uma orelha ou uma boca

sequiosa de palavras?

São oito livros velhos

e mais um livro novo

de um poeta ainda mais velho

que a vida que viveu

e contudo o provoca

a viver sempre e nunca.

Oito livros que o tempo

empurrou para longe

de mim

mais um livro sem tempo

em que o poeta se contempla

e se diz boa-tarde

(ensaio de boa-noite,

variante de bom-dia,

que tudo é o vasto dia

em seus compartimentos

nem sempre respiráveis

e todos habitados

enfim.)

Não me leias se buscas

flamante novidade

ou sopro de Camões.

Aquilo que revelo

e o mais que segue oculto

em vítreos alçapões

são notícias humanas,

simples estar-no-mundo,

e brincos de palavra,

um não-estar-estando,

mas de tal jeito urdidos

o jogo e a confissão

que nem distingo eu mesmo

o vivido e o inventado.

Tudo vivido? nada.

Nada vivido? Tudo.

A orelha pouco explica

de cuidados terrenos;

e a poesia mais rica

é um sinal de menos.